Prémio Fernando Namora 2013

Um homem com uma boa história é quase um rei...1

Teoria Geral do Esquecimento de Agualusa vence Prémio Fernando Namora

Regina Célia Pereira da Silva
Università degli Studi l’Orientale di Napoli


Este ano o júri do Prémio Fernando Namora, instituído pelo grupo Estoril-Sol e na sua 16ª edição, extraíu o vencedor deste prémio entre um leque de 5 romances finalistas:

  • Jesus Cristo bebia cerveja de Afonso Cruz;
  • O rei do Monte Brasil de Ana Cristina Silva;
  • Metade Maior de Julieta Monginho;
  • Barro de Rui Nunes;
  • Teoria Geral do Esquecimento de José Eduardo Agualusa.
A escolha caíu neste último que é o vencedor do Prémo Literário Fernando Namora 2013.

O júri - constituído pelo autor Vasco Graça Moura como Presidente, integrou também Guilherme d`Oliveira Martins, do Centro Nacional de Cultura, José Manuel Mendes, da Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Gil Loureiro, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Maria Alzira Seixo, escritora, Liberto Cruz e ainda Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu do grupo Estoril Sol - privilegiou a linguagem e o estilo próprio da escritura de Agualusa que, pelas suas peculiares características .... reunem uma especial economia de efeitos.... onde a língua portuguesa fala em interceção com outros modos2 e sistemas.

José Eduardo Agualusa nasceu em Huambo, no planalto central de Angola, em 1960, é membro da União de Escritores Angolanos e estreou-se literariamente com A Conjura (1989) com o qual venceu o Prémio Sonangol. É autor de cerca de 25 títulos literários em prosa e poesia.

O espaço narrativo da Teoria Geral do Esquecimento, editado pela D. Quixote em 2012, localiza-se em Luanda (Angola), a acção começa no dia 11 de novembro de 1975, véspera da proclamação da independência. O romance percorre os acontecimentos da vida colectiva de Angola, desde a independência até á actualidade. Uma aveirense, Ludovica, agrega-se à sua irmã que tendo casado com um colono angolano viúvo, vai para Luanda. No momento da revolução Ludovica percebe que se encontra entregue a si própria, por isso, decide erguer um muro à frente da porta que a separa do edifício onde mora, acabando por sobreviver isolada durante cerca de 30 anos. Todos se esquecem de Ludovica: Os dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais cadernos onde escrever. Também não tenho mais canetas. Escrevo nas paredes, com pedaços de carvão, versos sucintos. Poupo na comida, na água, no fogo e nos adjetivos.

A magia, a imaginação e a ironia típicos da escritura de Agualusa são características que acompanham o desenvolver-se do romance. Cada episódio ou acontecimento adquirem sentido quando encaixados nos factos seguintes, relendo de forma original a revolução e a viragem ideológica do poder instalado em Angola.

O estilo da escritura do autor é acompanhado por um humorismo que tem a função de atenuar a narração da história trágica de Angola, a descoberta de temer o outro, o de mim diferente. É pois, um texto que apresenta como pano de fundo quer a xenofobia, o racismo, quer o amor e a piedade.

1 Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa, D. Quixote, 2012, p. 157.
2 Frase extrapolada da acta escrita pelo júri do Prémio Fernando Namora de 2013.

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